sábado, 11 de dezembro de 2010

Capítulo 11 – Mihael

Pelo que senti em meia aquela outra forte tempestade, algo deu errado para o cara lá de cima. E para ser sincera, eu não estava nem aí. Apesar de ser uma predadora, de certa forma, meu coração tinha um amor muito humano.
 Comecei a refletir sobre tudo que passei quando era uma jovem mortal, e eu gostava. Eu vivia fugindo, mas eu era feliz.
 De repente vi um garoto caindo do céu. Fala sério.
_Eu não vou ajudar aquele anjo. – Comecei a pensar comigo mesma e dizê-la para mim mesma.
 Coitado. Meu imbecil coração falou mais alto do que minha razão imortal. Virei um lobo e corri como pude. Ouvi os pensamentos dele.
_Por quê?! Eu descumpri a lei divina. Senti uma emoção humana. – Pensava ele. – Estou impuro. Mereço maior punição.
_Não, não merece. – Disse eu. Olhei para o pobre anjo caído. Voltei a forma normal.
 Suas asas foram arrancadas com uma agressividade espantosa. Como eu era boba... Acreditava que Deus era piedoso. E que os anjos eram bons. Um erro muito comum.
_Saia daqui, ser profano. – Disse ele, pondo-se de pé. – Não és digna de minha luz.  – Apesar de sua agressividade artificial, seus lindos olhos azuis, mostravam uma doçura incomum.
_Se sou ou não, não importa. – Disse eu, aproximando-me. – Sou a única coisa que esta disposta a ajudar-te. Não sou mãe das mentiras, nem senhora das verdades. Mas o que eu digo agora é sincero. Se quiseres minha ajuda, dizes.
“Não lhe negarei refugio, nem compreensão. Perdoe-me por ser assim, mas não tive escolha. Você foi banido injustamente, por anjos que não sabem perdoar. Deus, apesar de ser poderoso, não nos ama como deve.”
_Não digais o nome do grande, em vão. Com sua boca suja, que exala o cheiro da morte.
_Se quiser minha ajuda, dizes. – Disse eu. – Posso ser uma bruxa e até mesmo uma criatura criada para escuridão. Mas apesar de tudo, não sou aliada aos demônios.
_Olha quem diz. – Disse ele, repetindo meus movimentos de andar em círculos, como um predador que cerca sua presa. – Você mata, e bebe o sangue de inocentes.
_Deus mata indiscriminadamente. – Disse agora atingida pela cólera. – Apenas repito seus atos. Partirei, se desejar minha ajuda, siga-me. Quer-se morrer e for deixado de lado e visto pela igreja como ser profano, suma de meu campo de visão.
_Não matarás. – Disse ele, citando um dos dez mandamentos.
_Até o diabo pode citar as escrituras quando lhe convém. – Respondi. Usei a mesma fala quando conheci meu amado Sitael.
 Virei-me e recomecei minha caminhada. Senti que alguém me seguia.
“Preciso de você.” – Disse ele mentalmente, mostrando-se flexível as opções apresentadas. – “Perdoe-me. Creio que me arrependerei desta escolha, mas vejo que tem uma alma boa.” – Sua voz era suave e angustiada.
_É a única coisa humana que me resta. – Respondi. – Qual seu nome?
_Mihael.
_Virtudes, não é? – Perguntei.
_Como sabes? – Perguntou ele.
_Fácil. – Respondi. – Quando criança – ainda mortal – comecei a pesquisar sobre anjos. Eles sempre me fascinavam. Acreditava que tivesse um bom anjo da guarda, mas quando realmente precisei... Nada.
_Deus olha por todos nós. – Disse ele, colocando a mão em meu ombro.
_Não olhou por mim. – Disse eu, baixando a cabeça. Fitando o chão. – Os santos podem ter sofrido. Mas morro quando mato. – Ouvi barulhos de coisas correndo e vi vultos, e logo, senti um cheiro horroroso de enxofre. – Por favor. Digais que não está sendo seguido...
_Queres mesmo que eu diga?! – Disse ele.
_Vamos dar o fora deste lugar. – Respondi.
 Ele não estava em condições de andar. Nem sei como ele conseguiu me seguir. Lembrei-me de uma magia, antiga, pertencente aos anjos que talvez ajudasse.
 Encontrei minha faca e cortei um pouco de um de meus pulsos, desenhando o símbolo em uma pedra.
_Não se mova! – Disse a ele. Levantei minha mão, para mandar os espíritos para longe. – Acquijure te espiritus nequissimi per Deum onipotentem.
 Era coisa de exorcismo, mas minha avó fez uma vez, e deu certo.
 Deu-se uma fortíssima rajada de vento, que quase me arrastou junto.
                                                                                                       ***
 Avistamos uma cabana abandonada e entramos lá. Mihael parecia muito mal... Fiquei com dor de vê-lo daquela maneira. Apesar de tudo, ele me fez lembrar Sitael, mas eu ainda o amava. Nada mudaria isso. Mihael me deu uma olhada tão profunda, que até me senti mal.
_O que foi? – Perguntei suavemente.
_Dor. – Respondeu ele.
_Cuidarei disso. – Devolvi.
 Arrumei uma bandeijinha com curativos, que eu tinha conseguido roubar do colégio uma vez.
_Relaxe. Cuidarei de você, Miha. – Passei a mão por suas costas, tirando um pouco de sangue diluído com terra.
 Ele extremesseu. Peguei um algodão com guento feito de ervas medicinais, que eu carregava comigo e passei. Ele mordeu a camiseta que dei a ele. Limpei os ferimentos com toda a delicadeza, e me lembrei da vez em que quase beijei Sitael, fazendo um curativo em seus lábios. Lembrei-me. Uma doçura incomum aflorou em mim.
_Seu olhar é tão doce, quando você sonha. – Ele sorriu e me deu um olhar suave como a brisa mais aconchegante.
_Oh! Ops... Desculpe. – Corei geral.
_Não há problemas...
_Que mal lhe pergunte, e se me permite. – Pausa. – Por que você caiu?
_Eu senti ciúmes. Ciúmes de Veuliah estar passando muito tempo com Menadel. – Disse ele, baixando o olhar. – Éramos muito amigos. E depois que Uriel sentiu... Arrancou minhas asas.
_Entendo.
 Ele olhou bem afundo de meus olhos e o flash do corpo dele, se estendeu pelo meu. Vi a minha imagem, a frente de Deus, com a mão direita estendida.  Sim, essa era eu.
_Mátev. – Exclamou ele. 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Capítulo 10 – Outro anjo caído

Aquele realmente era o anjo Gabriel? Bom, para ter emanado luz daquela maneira, a resposta deveria ser óbvia. Mas... E Ariel? Como eu sabia que era ele, sem tê-lo conhecido?! E porque todos me chamavam de morte? Ainda acho que a morte merecia mais respeito. E afinal, e o plano da espada dos tremeres, parecia ter descido pelo ralo depois que os meninos-lobos apareceram. E que diabos deu-se a graça de Sitael?! Meus Deus. Essas perguntas gritavam e rugiam dentro de mim, mas, onde estavam suas respostas? Eu queria respostas. Isso era loucura, não era? Ou... Não? Droga! Será que eu poderia ficar pelo menos cinco minutos sem pensar?! Um segundinho que fosse? PORRA!
 Sem nem sequer abrir os olhos, pousei a mão sob o criado-mudo e peguei o bilhete que o tal “Anjo Ariel” queria que eu entregasse a Sitael. Abri os olhos, e uma luz incomodou um pouco meus olhos, mas esse incomodo era normal. Opa... Erro meu. Aquela luz não era normal. Nenhum pouco normal.
 Levantei-me em um pulo e corri até a janela. Abri-a. A luz era muito forte, que trouxe consigo uma rajada de vento, que me levou ao chão.  Voei no chão e fiquei imóvel. O céu desabou em gotas e mais gotas de água. Pulei pela janela, e corri, tentando seguir a linha onde o astro, meteoro... Sei lá o que, que mais parecia um comêta brilhante, poderia cair.  Por mais veloz que eu fosse, não era a velocidade que eu queria.
 “Eu quero voltar a ser um lobo.” – Pensei, fechando os olhos.
 O meu corpo parecia produzir uma fumaça branca e quando dei por mim, já estava correndo sob quatro patas. Ouvi vários passos atrás de mim, virei a cabeça instintivamente, e o céu pareceu mesmo que ia desabar.
_Ih... Algo deu errado para o cara lá de cima. Se fodeu otário! – Pensei.
 Os meninos me seguiam, e eu me senti mais segura e apoiada. O maior deles, era Davi, e Sitael, estava segurando-se nele. Chegamos a uma clareira. Ela era linda, principalmente agora, que estava banhada em luz prateada. Havia uma pequena nascente ali, cheia de pedras, onde se podia pular de uma borda do lago, para a outra. Dentro da água, uma luz intensa, ia perdendo seu brilho. Quem sabe fosse só um comêta, porque estava um cheiro desgraçado de queimado no ar.
 Olhei melhor, e não, não era um comêta, nem uma pedra... Era, sei lá... Uma pessoa?! Talvez. Pois tinha o formato do corpo humano, então...
 Uma fumacinha branca começou a sair de meu corpo, como o evaporar de almas e quando vi, eu estava com o mesmo vestido preto e a mesma fita de seda no cabelo. Coloquei um pé na água... ÔÔ águinha gelada, do caramba. Entrei na água e então mergulhei água a dentro.
 Peguei a mão de um menino, e na exata hora em que ele encontrou meu olhar, uma luz se criou em nossas mão e consumiu nossos corpos e eu fui atirada a um metro e vinte, longe do menino. Peguei sua mão novamente e o trouxe para fora da água. Respirei fundo, recuperando o fôlego. Kaab e Fuad me ajudaram a sair da água, e então me ajoelhei e inclinei meu corpo, para ver melhor o menino. Ele estava imundo de sangue diluído na água, e da terra que água que agora o enlaçava. O menino estava desmaiado. Ele tinha cabelos louros e a pele bem branquinha e suave. Seus olhos, pelo pouco que vi, era azuis como a água. Seus lábios eram bem carnudos, daquele do tipo que qualquer garota mataria para ter lábios como aqueles. O garoto desmaiou, então, peguei-o no colo. Senti algo quente, escorrer pelo meu braço, uma gota fina e suave. O cheiro tão doce... Sangue! Coloquei-o nos braços de Sitael e tentei correr. Senti uma força maior se apoderar de meu corpo. A Besta.
  As presas ficaram mais saltadas e então, voltei-me para os meninos. Grunhi e então, não era mais eu. Era a Ananka Besta. Vamos deixar tudo em panos limpos. Há dois tipo de criaturas nos vampiros (se bem que eu não era mais uma vampira, eu acho), há nós (obviamente) e a Besta (que a nossa parte demoníaca).  Sitael correu e então eu corri atrás dele, por sorte, Kaab (já em forma de lobo) bateu em mim, arremessando-me para uma árvore. Eu queria deter a Besta, mas não conseguia. Ela estava no controle de meu corpo agora. Subi na árvore e me joguei, como se fosse planar. Toquei os pés no chão e então corri, para pegar Sitael e o garoto.
 Eu queria aquele sangue, mas jamais poderia bebê-lo. Agora, eu não me controlava mais (tentava, mas não era mais eu).
_Pare, Jade. – Gritou Kaab, mentalmente.
_Não... Consigo... – Gritei, debatendo-me por dentro.
 Meu corpo, sob o controle da besta corria,  a uns 20 metros de distância Kaab veio para cima de mim pulando, e então me esquivei, escorregando por baixo. Deslizei e continuei a correr. Fuad foi por baixo e então, como um truque de balé russo místico, eu pulei girando no ar. Como uma ginga brasileira, driblei Hassan e pulei por cima de Dib. Quando meus dedos finalmente resbalei os dedos nas costas de Sitael, senti uma dor subir pelo meu braço e se espalhar pelo meu corpo. YES! Prendi a besta. Rá, consegui! Gritei, por a dor era muito forte.
_Solte-me, Davi. – Choraminguei. – Sou eu novamente.
 Ele me soltou rapidamente sem pestanejar. As presas nunca ficavam totalmente escondidas, mas metade entrava. Mandei elas ficarem do tamanho “normal”. Olhei o braço e comecei a chorar de dor. Kaab, me ajudou a levantar e então subi nas costas de Davi, que ainda estava como lobo. Começamos a andar, e eu fiquei muito sucetível.
 Comecei a acariciar Davi e enlaçar delicadamente os fios cinzas e brancos do pêlo de Davi.
_Desculpe. – Sussurrei a ele. – Sabe... Eu tenho uma Besta e quando ela se liberta, eu fico daquele jeito. Às vezes... Pior. Você me perdoa?!
 Ele fez um grunhidinho, que parecia um sim.
_Obrigado. – Sussurrei.
 O sangue escorria pelo meu braço. Minha visão começou a ficar turva e então Davi grunhiu, falando mentalmente aos outros, algo que não entendi. Então ele disparou a correr, eu sequer me segurei, meu corpo estava debruçado sob as costas de Davi, enquanto ele corria. Chegamos a reserva e então ele uivou. Não seu porque fui receptiva ao uivo e uivei novamente.
                                                                                  ***
 Acordei, com uma dor infernal no meu corpo e vi que meu braço estava enfaixado. Nossa, mas Davi era muito teimoso, por Deus que sei lá se está no céu. Esse moleque era teimoso ao extremo. Ok... Eu não podia reclamar, por que eu era mil vezes mais teimosa. Levantei e suavemente fui até a cozinha. A molecada havia levantado com o pé direito hoje. Sitael, veio tão rápido até mim, que pareceu que veio voando. Davi me olhou e eu sorri, como quem diz “oi”. 
 Eu dei bom dia e todos me responderam. Weee! Acho que eles não estavam bravos comigo. Kaab pegou o MP8 dele e conectou em um aparelho de som, com amplificador. Ajeitou o volume. E colocou a música: Help! Do The Beatles. Eu sempre amei aquela música, e comecei a cantá-la quase gritando, para parecer uma retardada. Alguns riram e Kaab me chamou de babaca e eu só sabia rir.
_Nossa! Gosta de Beatles, hein, Aninha. – Disse Fuad.
_Isso é do meu tempo. Eu tinha só 35 anos, quando os Beatles apareceram. – Respondi.
 Davi e Fuad se entreolharam e me avaliaram.
_Qual é?! Não me olhem com essas caras. Até parece que vocês não sabiam que eu tenho 100 aninhos na cara. – Disse eu.
  Ouvi gemidos no outro quarto, levantei-me em um pulo e corri até lá.
 Eu e Sitael entramos rapidamente no quarto, e então, quando estávamos lá dentro... BAM! A porta se fechou e ficamos apenas nos três lá. O garoto estava banhado em luz, e uma luz que cegava. Eu mal conseguia enxergar o que estava a 40 cm de distância de mim. Coloquei a mão na frente, mas não deu. Uma explosão. BUM! Eu e Sitael fomos arremessados contra a parede. Algo pressionava meu peito e não me deixava respirar. Sim, meu pulmão ainda funcionava. Senti uma dor bem no meio do meu peito, mas uma dor muito forte. Rugi. Vi que a camiseta estava se dilacerando, com vários pedaços de pele. Bem de onde vinha a dor. Comecei a gritar. Aquilo era muito doloroso. Um tipo de fogo queimava a pele, de onde ela se dilacerava, criando uma marca. Uma marca que ainda não tinha forma definida. Não escorria sangue, apenas pegava fogo.
 VRUM! Imagens vieram na minha cabeça.
_Mamãe, mamãe. Quem é a moça bonita que está de preto? – Apontou uma menininha para mim.
_Que moça, filha? – A mãe procurava. – Onde?
_Ali. – Ela apontou de novo.
 Eu andava em passos suaves como uma pena, e percebia que os olhos da bela menina brilhavam ao ver minha imagem. Mas eu sabia que já era chegada hora dela sair deste mundinho sujo.
 Entraram ladrões na casa dela, e ela começou a gritar. Deram um tiro na mãe dela e um tiro na cabeça, da pequena menina. Passados alguns minutos, ela saiu de seu corpo. Peguei sua mão e fomos embora.
 A mãe da jovenzinha sobreviveu. Mas morreu a algum tempo, acho eu...
 Mas o que eu estava fazendo?!
 Outra imagem veio. Senti como se algo fosse arrancado de mim, e uma queda, que parecia interminável. Vi o rosto de vários anjos, mas não tive tempo de chamar por algum deles. Uma pressão que parecia estourar meus ossos, que nem eram feitos de cálcio e sim de uma anti-matéria. A anti-matéria que criou a matéria.
 Tudo que para mim parecia pleno, se esvaiu em por minhas mãos em milésimos de segundos.  Era inexplicável, mas agora, eu não sabia tão bem o que eu era. As palavras fugiam de mim e eu sabia que não adiantava correr atrás delas.
 Vi-me terminando a queda e cara... Aquilo foi doloroso ao extremo. Poft! A dor era imensurável. Eu mal conseguia me mover e eu estava encharcada de sangue, semi-nua, com frio, com medo... Com desejo de morte.
 Cheguei perto de uma cabana, e percebi que uma jovem moça, pobre, estava grávida. Era essa minha chance? O óvulo acabara de ser fecundado. O corpo que se faria, poderia ser meu, pois ele era objeto de morte. Era um pequeno Nefilin que ali crescia. Não era nada ainda, apenas uma coisa que o anjo caído colocou na moça e que fecundara seu óvulo. Uma jovem e pobre bruxa, junto com um anjo caído. Lamento, mas eu, faria de um corpo feito de matéria, uma obra-prima feita a minha semelhança e do corpo que flutuaria por nove meses, o meu templo. O templo de algo que sempre fora chamado de morte.
 Quando uma imagem se apagava, outra chegava.
Uma luz se fez quando eu entrei na moça. 9 meses flutuando em silêncio, alguns chutes... Uma luz linda e prateada se criou e então, uma marca estranha se fez na árvore que ficava na frente da casa. Uma explosão de brilho se fez e ela simplesmente despertou de seu leve sono. E assim, nove meses se passaram e algo vibrava ali naquela árvore. A jovem bruxa, curiosa e receosa, insistia em tentar descobrir, mas o receio lhe gritava mais alto.
 Ela passava horas ali, tentando ver da maneira como eu me desenvolvia... Ela ficava fascinada, mas nunca quis que o marido se aproximasse novamente. Sábia decisão.
 As imagens cessaram, mas meu nervosismo não.
 O que eu era afinal? Um anjo (nem se Deus der um pulinho na terra)? Um demônio (certa resposta)? Alguma ameba fora do comum (fato)?
 Ok. Ok.  Eu era apenas algo que não era desse mundinho. Isso é fato. Mas o que na verdade eu era?
 O fogo que saia de dentro para fora, parou de arder em minha pele. Meu coração ardia dentro de meu peito, como se quisesse fugir, mas estava preso. Olhei para o peito, e a marca estava praticamente selada em mim. Estava entre a saboneteira e os seios. (Para você, jovem do século 21, saboneteira é aquele osso que fica no termino do pescoço. Na reta dos ombros.)
 Sitael se aproximou e me ajudou a levantar. Olhei fixamente dentro de seus olhos e ele baixou a cabeça, em um tom de: “Desculpe”. Olhei-o e dei um tapa em sua cara que o fez perder o equilíbrio e quase cair no chão. Minha mão ficou formigando... Ele gemeu e ficou me olhando.
_Eu te ajudo, e é assim que você me agradece. – Disse eu, com um tom de nojo em minha voz. – Sempre soube que não podia confiar em anjos. Eu te defendi, te protegi e estou condenada pela camarilla por você e é assim mesmo. A anormal aqui, só te serviu como um objeto de proteção. Agora, você não tem mais este objeto.
 Saí andando, mas ouvi ele dizendo espere. Não hesitei e fui embora do quarto.
 Fui até meu quarto e juntei todas as minhas coisas – que eram pouquíssimas- e coloquei-as na mochila. Antes de sair pela porta, Kaab chegou correndo até mim.
_Não vá embora! – Suplicou ele.
_Tenho que ir. – Dei um beijo em sua testa. – Não se esqueça nunca, nunca mesmo, que eu te amo, viu, baixinho.
 Ele sorriu e me deu um forte abraço, senti uma lágrima fugir. Aquele aperto no peito, que eu já conhecia a tempos... Dor. Oh! Maldita dor. Quem foi o maldito que te inventara. Maldito sejas teu poder.
 Desci as escadas e encarei o caminho que eu iria percorrer.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Capítulo 9 – Anjos

  Eu corria sem parar por um segundo, por uma mata fria e escura. As árvores estavam macabras, e seus galhos pareciam que iam despencar sobre a minha cabeça a qualquer momento. Parecia que algo ou alguém corria atrás de mim, e eu, não fazia nada além de correr mais e mais.
Cheguei a uma clareira e quando me voltei para saber o que estava a minha frente, dei de cara com uma foice. Quando a toquei, uma luz branca pareceu sair de meu corpo e subir e subir. De repente, a luz começou a meio que ser “queimada” por uma luz negra. E então, invadiu meu corpo. Algo pareceu metamorfosear minhas omoplatas. Parecia fungí-las com algo mais forte e bem grande. A pele parecia se partir e eu gritei, pois a dor, era imensurável.
_Venha! – Disse uma voz forte, estendendo-me a mão.
 De repente, acordei.
 O coração batia desesperadamente, a respiração estava extremamente ritmada. O peito inflava e volta, inflava e voltava. Os olhos se abriram lentamente e começaram a se ajustar com a luz do ambiente. Levei as mãos ao rosto e vi o sangue seco que cobria a pele pálida e gélida. A dor que eu sentia era muito forte, que eu mal podia me mover. Virei de lado, e vi o sangue que agora, sujava o lençou. Meu estômago prostetava, de tanta fome que eu estava.  A tempos eu não recebia alimento e não sabia bem se iria aguentar mais tempo. Mas agora, não era só o sangue que me deixava atraida, mas um cheirinho bom de pão de queijo no ar, fez que a minha boca se enxesse de água.
_A Ana... Jade, está demorando para acordar – Ouvi Kaab, falar na cozinha. -, normalmente, ela é a primeira que levanta.
 Silêncio.
_Vou acordá-la. – Disse Kaab por último.
 Ouvi passos vindo para o quarto, e estremeci. Ouvi um: Toc-toc. E a porta começou a abrir levemente, rangindo. Nem sequer me movi, porque eu não sabia o que seria pior. Ver eu me arrastando ensanguentada, ou a cama completamente suja de sangue.
 Esperei que ele entrasse. Encontrei seu olhar e ele chamou os outros garotos. Eles vieram correndo, e ficaram envolta de minha cama. Sitael ficou encostado na porta, apenas olhando. Estava pacato com o rosto inexpressívo. De certa forma, fiquei meio magoada de ele não ter sequer se incomodado comigo.
_ Jade, o que houve? – Perguntou Davi, nervoso, pegando minha mão.
 Não respondi, estava tão zonza que nem me dei conta do que eles disseram.
Não vi, nem ouvi mais nada. O silêncio se fez presente em minha mente e então, apaguei.
                                                                                          ***
 Mexi os dedinhos, das minhas mãozinhas. Ok. Mexi os dedinhos dos pés. Ok. Abri os olhos, ô beleza. Exergava tudo e nada ao mesmo tempo. Pisquei quatro ou cinco vezes rapidamente até a visão ficar nítida. Agora sim. Ouvi um suspiro ao meu lado e virei-me.
_Boa tarde, moçinha. – Disse Fuad.
_Oi. – Sorri.
 Levantei-me delicadamente. Sem dor. Ah! Agora sim. Levantei-me da cama e fui em direção a janela. Vi a linda luz do sol que banhava meu quarto. Desde virei o que eu era, não admirava a beleza dos dias ensolarados. Como o refelxo do mar contra o céu... Era maravilhoso! Era lindo... A brisa era leve, com o sal da água do mar, que fizeram meus cabelos dançarem no ar. Eu estava de tão bom humor. Como a vida era bela...
_Está de bom humor hoje, hein. – Ele deu um risinho.
_É mesmo. – Fiz uma careta. Meu mundo cor-de-rosa pareceu desmoronar.
 Sentia-me mãe do mundo... Ih! Acabou a sensação prazerosa. Hunft! A Ananka amargurada poderia ficar alguns dias de folga. Poderia mesmo. Mas essa desgraça não fica.
 Dei uma lufada profunda e fui até o espelho. MEU DEUS! O que era aquilo refletido no espelho? Eu? A esposa do Frankstein? Morticia, é você? Não. Era eu mesma. Banhada em sangue seco, com a pele aparentemente mais viva. Ótimo. O chuveiro me aguarda para um longo e relaxante banho.
_Hm... Quer que eu seja sincero?
_Adoraria. – Respondi.
 Ele jogou uma toalha branca em minhas mãos e andou em direção a porta.
_Valeu! – Respondi em agradecimento a toalha.
_Que nada! As ordens, minha amiga. -  Ele abriu a porta, fechou-a e desapareceu.
 Amiga? Nossa. A tempos eu não ouvia me chamarem assim. Amiga... Fico contente de que ele me veja desta forma.
 Andei em direção a porta, abri-a e saí. Andei pela casa de madeira e fui até a janela da cozinha, quase ao lado da porta. Os meninos se divertiam na água dos mar, correndo, se jogando na água, jogando bola... Parecia um dia tão feliz. Quando olhei para a varanda, bem a minha frente, Sitael estava deitado, olhando o céu que a pouco eu admirava. Ele olhou para mim e levou um susto e levantou-se em um pulo. Ele me analisou por alguns segundos. Mas antes que pudesse dizer alguma coisa, virei-me e fui até o banheiro.
 Entrei e fechei a porta. Liguei o chuveiro e comecei a despir-me.  Vi uma marca delicada no pescoço, em forma de um lobo. Apertei os olhos, e realmente, era um lobo. Meus olhos não estavam mais castanhos-dorurados e sim verdes-azulados. Isso de certa forma, me deixou um pouco assustada. Mas, depois daquela noite, pouca coisa me assustaria.
 Uma parte de mim, estava extremamente recentida com Sitael. Fiquei chateada por ele ter me visto naquele estado e fingido que não era nada.
 Entrei debaixo do chuveiro, deixando que a água lavasse meu corpo magro. Comecei a deixar que as lágrimas fossem levadas junto com a água, assim, acho que aliviaria e muito minha dor.
                                                                               ***
_Onde você vai? – Perguntou Sitael, segurando meu braço.
_Interessa? – Contestei.
_Interessa. – Afirmou ele.
_Se interessasse, teria se importado com o meu estado a dois dias atrás. – Resmunguei. – Deixe-me em paz.
 Peguei minha bolsa e saí. 
 Caminhei, caminhei e caminhei, até enxergar um ponto de ônibus. Andei até ele, paguei a passagem e entrei. Sentei-me, e o homem ao meu lado ficou me olhando. Quando o ônibus entrou em movimento, ele colocou uma faca em meu pescoço.
_Passe a grana, moçinha. – Disse ele. – Senão, vai se machucar.
_A probabilidade maior, e de você sair... Morto. – Apenas o olhei torto.
 Quando ele foi cravar a faca em meu peito, segurei sua mão, como se fosse uma peninha, tirei a faca de sua mão e joguei-a para fora da janela. Ele pegou uma arma, de dentro de sua calça (ai, que cara nojento), e eu com um simples movimento, quebrei seu pescoço. Seu corpo caiu, mas todos estavam tão entretidos e eu tão escondida que só um garotinho percebeu. O corpo do “ladrão” ficou encostado contra a janela, como se ele estivesse dormindo.
 O menininho me olhou muito assustado. Fiz o sinal de “Shhh”, e dei uma piscadela. Então ele se abraçou com sua mãe.
 O ônibus parou em um ponto e eu desci. Fui até a estação de metrô, comprei o bilhete e entrei tranquilamente. Esperei o metrô e percebi que um garoto louro me olhava. Ele estava vestido totalmente de preto. Sapatos pretos, sobre-tudo preto... Enfim, todo de preto. O metrô chegou e eu entrei. Ele entrou na mesma hora e com os mesmos movimentos que eu. Sentei-me no lugar mais escondido possível e ele sentou-se atrás de mim. Um cheiro de fumaça invadiu meu nariz e não vinha da estação e sim do “garoto”.
 Aquilo não era um bom sinal. Tentei me distrair mas não parecia ser uma boa ideia.
_Como vai “Death”? – Sussurrou o garoto louro no meu ouvido.
 Virei-me para trás e ele já não estava mais lá. Droga! Tudo que eu não precisava, era um anjo negro no meu pé. Hunft! E agora? O que eu faria. Primeiro que, o carinha podia ser mais forte que eu. Segundo, que qualquer bobeada minha, poderia me levar dessa para pior. Mas porque ele me chamara de morte. Death, que todos sabem que é morte em inglês. Sinceramente, não entendi.
 Death. Death. Death. Death. Isso não saía da minha cabeça o caminho todo. E martelava, martelava sem parar.
“Plim!” Finalmente a minha parada. Desci do metro e fui até a escada rolante. Subi tranquilamente, olhando para cima, onde tinham desenhos da arte urbana.  Eram muito coloridos e cheios de vida. Era uma mistura de felicidade, simplicidade, essência e crítica. Eu adorava este tipo de coisa. Pena que no meu tempo não tinham essas coisas.  Dirige-me até a entrada/saída e fui para a rua. Ok. Primeira parada: Biblioteca púplica.
 Coloquei o capuz, coloquei o MP4 nos ouvidos, na música do Pantera. A música se chamava: “Callboys is from hell”.
                                                                                 ***
 Andei três quadras, tranquilamente. Cheguei a estação de metrô e comprei o bilhete.
_Obrigada. – Agradeci a moça que me vendeu o bilhete.
 Ajeitei a bolsa no meu braço esquerdo e saí. Andei até lá, e esperei. Olhei dos lados, procurando aquele demônio, mas (graças ao bom Deus) nem sinal dele.
_Death... – Ouvi um sussurro me chamar.
 Assustei-me, olhei para todos os lados e nada. Estou ficando louca?
_Death... Death... – Ouvi mais vezes, e ignorei.
 Senti um calafrio subir pela espinha, e ele era incomodo e muito frio. Virei-me para trás e nada. Havia muitas pessoas na estação e elas sequer perceberam que eu estava atônita daquela forma. De certa forma, fiquei grata por isso. Mas, ainda sim, ninguém poderia me ajudar.
 Senti aquela rajada de vento vir do tubo. Amém, o metrô chegou. Entrei, sentei e fiquei quieta.  Tão quieta, mas tão quieta... Que dormi.
_Logo... Death... Logo... Graça... Virá... – Dizia uma voz em meu sonho. – Sitael... anjo... você... selo... chave...
 Puf! Acordei. Chacoalhei a cabeça e pisquei. Ótimo. Tudo estava normal. Amém!
 Saí do metrô e não andei muito, até que senti uma mão segurar meu braço. Virei-me por instinto e um garoto loiro de olhos azuis me fitava com um olhar suplicante.
_Jade. – Ele me puxou por alguns metros, até um canto, onde não éramos vistos.
 Ele tirou uma coisa do bolso, era como um pedaço de folha amassada.
_Entregue ao Sitael. – Sempre que eu tentava olhar seus olhos, ele desviava. – Pare de tentar olhar nos meus olhos, Jade.
_Quem é você?; Como sabe meu nome?; Como sabe que Sitael caiu? – Eu segurei seu queixo e olhei dentro de seus olhos, mais afundo do que eu costumava fazer e mais do que eu esperava.
 As pupilas dele pareceram dilatar-se.  Inúmeras imagens vieram a minha cabeça, como flashes, e aquilo pareceu ser uma punhalada no peito.
 Vi a minha imagem, com aquele manto negro, segurando uma foice, igual a do meu sonho, com a mão direita estendida sob um tipo de pergaminho. Logo em seguida, vi-me caindo dos céus, com asas negras sendo dilaceradas. Vi-me fitando algum homem, cuja imagem era macabra. Vi-me montando um cavalo negro e com ele, eu parecia descer os céus, chegar as terras. Vi o olhar apavorado de uma menina, ao me ver. E depois de eu deslizar minha mão sob seus rosto, ela estar ao meu lado, sorrindo. Vi Sitael, com suas majestosas asas acolhendo a menina.
_A-A-Ari-Ariel. – Eu disse, com a voz falhando.
                                                                                  ***
Flap. Flap-flap. Flap-flap-flap. Eu ouvia asas batendo. Um segundinho só? Asas?!
 Levantei em um pulo, e aquela luz, quase me cegou.
_Mátev. – Disse o anjo, me estendendo a mão.
  Mátev... Mátev. Epa! Isso traduzindo do hebraico, significa morte. Chamaram-me de Death, agora de Mátev. Eu olhei nos olhos, verdes flamejantes do anjo e um nome veio a minha cabeça.
_Gabriel. – O jeito como eu falei, pareceu um cantar.
 Gabriel, o anjo mensageiro dos céus. Que anunciou que Maria ficaria grávida e blá-blá-blá.
 Mas como? Porque? Porque eles estavam me chamando de morte? Tudo bem, que desde que virei essa coisa meio misturada, eu era uma buscadora da morte, porque eu matava pessoas, mas a morte, Senhora Morte, Dona morte, seja lá como for, merecia um pouco mais de respeito.
 Isso que eu nem falo hebraico.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Capítulo 8- Sem espécie identificada (Para minha grande amiga: Rhebeca Murbach Neri)

 Andei até ela, e só se escutava o rangir dos meus dentes. Eu estava sedenta de sangue, e adoraria matá-la por ter dito meu nome verdadeiro. Mas, infelizmente, Sitael não deixou que eu o fizesse. Hunft! Que droga!
 Eu tive de segui-lá até uma cabana, até que bem bonitinha. Quando entrei, fiquei boquiaberta, por ver tanta parafernalia de vidente, em uma cabaninha tão pequena. Meu Deus! Como coube tudo aquilo ali?!
  Sentei em uma almofada, aparentemente bem delicada e bem bordada, frente a uma mesinha de madeira gasta. Bem gasta. Ali, tinha tipo um calendário Maia e mais umas coisinhas que eu não sabia o nome. Ela se sentou com dificuldade e finalmente voltou-se para mim.
_Então Ja... – Não a deixei terminar.
_Ananka. – Corrigi.
_Ananka...  – Por incrivel que pareça, ela assentiu. – Tenho uma coisa para você. Eu a espero a muitos e muitos anos.
_Tipo... Uns 80? – Debochei.
_75. – Respondeu ela. Eu ainda sou mais velha.
 Ela pegou do bolso, uma coisa que parecia ser um fras... Sim, era um frasco. Parecia ser feito de ouro, porque reluzia muito. Ela fitou o frasco por mais um momento e me entregou. Peguei-o, abri-o e cheirei seu conteúdo.
_Argh! – Aquela coisa fedia. Fechei-a. – Tem cheiro de sangue, enxofre e cachorro molhado. Que nojo!
_Hoje. Vá até o meio da mata, exatamente a meia-noite, esteja lá. – Disse ela. – Encontre a árvore mais bonita, com desenhos em sua madeira. Quando tocá-la e ela se acender. Beba o conteúdo do frasco.
 Coloquei o frasco no bolso de trás e tirei-o, porque... Vai que aquela merdinha quebra.
_Vá, filha. – Disse ela.
_Eu devia dizer isso. – Disse eu. – Continuo sendo mais velha que você!
                                                                                                         ***
 A noite caiu. E eu fiquei praticamente o dia todo jogando ping-pong com Kaab. Sitael me fitava sem parar, faltava uma hora para meia-noite, e eu estava cada vez mais nervosa.
_Kaab! Chega! – Disse eu ofegante, jogando a raquete em cima da mesa e rindo. – Cansei, malinha. Amanhã a gente continua jogando.
_Revanche?! – Perguntou ele.
_Ah! Pode ser. – Respondi.
 Andei até Sitael e ele estremeceu.
_O que foi? – Perguntei, preocupada, tocando seu rosto.
 Ele pegou minha mão, e sem dizer uma palavra sequer, me levou para fora da casa. Jogou-me contra a parede, e colocou os dois braços de cada lado, para que eu não tivesse como fugir.
_Ana... Jade. – Ele tremia.
 Estremeci quando ele disse meu nome verdadeiro. Aquilo foi como uma flecha que encontrou meu peito.
_Tome cuidado, pequeno anjo. – Disse ele.
 Ele disse apenas isso, até que percebi, que uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Limpei a lágrima com a minha mão e suavemente, pressionei seu olho para que a outra lágrima não fugisse.
_Sitael, o que foi? – Perguntei.
 Ele virou-se e então, voltou-se para mim. Empurrou-me contra a parede e encaixou seus lábios nos meus. Correspondi. Não havia nada, que eu quisesse no mundo do que tê-lo para mim. Eu só o queria. A morte viria em segundo lugar. Mas ainda sim, isso era tão bom quanto morrer. Eu o amava de uma forma tão complexa, mas esse amor vinha de uma forma tão espontânea... Tão... Simples.
 Eu sentia, não só seus lábios nos meus, mas eu sentia uma conexão entre nós dois. Era uma mistura de felicidade, euforia, amor, paixão, desejo... Pecado! Mas era tão bom, e eu esperava por isso a tanto tempo. Todos os meus desejos mais profundos, foram trazidos a luz. Eu o queria, eu o amava.
 Meus lábios se abriram levemente, e isso era deseperador. Eu o queria mais e mais. Apenas ele.
 Senti algumas lágrimas se formarem em meus olhos e deslizarem pelo meu rosto. Culpa... Maldita culpa! Bem que ela poderia vir depois.
 Larguei-o, ofegante. Ele me olhou, como se aquilo tivesse lhe machucado, mas seu rosto demonstrava felicidade e prazer. Poderia até ser um erro, mas diga-se de passagem, foi um erro bem saboroso. Eu corei, assim que ele me fitou. Então olhei no relógio. Faltavam apenas trinta minutos.
 Olhei para Sitael, e dei-lhe mais um beijo. Um selinho. Apenas isso.
  Disparei a correr. Entrei na mata. Aquele lugar era escuro, sombrio e o silêncio era torturante. Exceto por alguns grilinhos e algumas corujas, fazendo barulho. Corri e a medida que eu corria, as folhas secas se partiam debaixo dos meus pés. Corri, até chegar no meio da mata, encontrei uma árvore linda e aparentemente delicada. Ela era repleta de desenhos, feitos com faca, contra a madeira. Toquei os desenhos e ela se acendeu. O brilho era azul-céu, branco, cristal e vermelho-sangue. Senti que algo prendeu meus pés ao chão, e então peguei o frasco no bolso da minha jaqueta.
 Tirei-o e cheirei seu conteúdo. Estremeci de nojo. Tapei o nariz e bebi seu conteúdo. Quando a última gota desceu pela garganta, eu senti uma dor imensuravel. Aquilo parecia me destruir. Uma dor parecida da que eu senti, quando virei vampira.
 Caí no chão. Eu mal conseguia respirar. Era como se algo não me deixasse respirar. Ofegava, e travava a respiração até que puf! Apaguei. Não sentia mais nada.
 De repente despertei, senti tudo no meu corpo mudar. As costelas pareciam se partir e crescer de novo. Não parava mais.  Até que aquilo tudo passou. Respirei tranquilamente e olhei para os lados. As coisas pareciam ter mudado. O foco da minha visão estava absurdamente excelente. Levantei, só que não da maneira comum. Rolei para o lado e me levantei sob quatro patas. PATAS?! Olhei para baixo e só vi duas patinhas. Pretas e felpudas. Comecei a tentar ver o resto de meu corpo e vi uma calda. Meu Deus! Eu era um lobo agora?
 Disparei a correr. Quis dar um grito, mas tudo que saiu foi um latido. Duro e desesperado.  Corri mais.
 “Quero voltar a ser o que eu era” – Pensei.
 Puf! 
Voltei a ser eu. Não que não fosse naquela hora. Mas era meu corpo “normal”. Sai rolando, ladeira a baixo e quando parei, vi um casaco preto. Daqueles, parecido como do Deus Thanatos. Peguei-o. Vi meus cabelos negros, presos por uma fita vermelha de seda pura. Um vestido preto que ia até os joelhos e deixavam a saboneteira e os calcanhares a mostra, me deixando extremamente envergonhada. Eu nunca mostrava o corpo. Peguei casaco, e coloquei a toca e fui andando até a aldeia. Senti meu antigo cheiro, que era bem adocicádo. Andei  e andei. Exausta e cheguei na aldeia. Olhei em volta e aparentemente estava tudo deserto. Entrei na casa. Dei passos bem leves, para não ser ouvida. Abri a porta de meu novo quarto, bem devagar e entrei. Passei diante do espelho.  Vi que eu estava encharcada de sangue. Tirei o casaco e caí na cama. Os pés sujos de terra, descalços. Não estava nem aí. Deitei e apaguei.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Capítulo 7- Raça

Agora eu estava confusa. Acordei com a cabeça dolorida... Como se alguém tivesse dado uma paulada na minha testa. A dor era desconcertante. A respiração estava ritmada e o coração resolveu dar o ar de sua graça. Meu sangue vivia ali... Parado. As veias inutilizadas. Agora sentia que algo corria alegremente pelas minhas veias. Sangue (Quem sabe). Veneno (claro). 
 Senti a garganta seca. O ar passava de um jeito doloroso, como se fosse agulinhas ali. Sede... Muita sede. A dor persistiu.
 Levantei-me, quase caindo. A sensação de tontura era má, não tinha remorso de me causar enjôo e mais dor de cabeça. Os olhos se reviraram e eu caí em um baque mudo. Pousei a mão com força em um tipo de escrivaninha e me levantei novamente. Tentei organizar os pensamentos, mas era muito conteúdo para uma cabeça só. E diga-se de passagem, era conteúdo que não acabava mais. Levantei-me, abri a porta – uma parte dela -, encostei-me do lado dela e vi que os garotos brincavam. Sitael jogou uma bolinha de papel, que por coincidência – ou não – acertou meu rosto.
 Eles me olharam com surpresa, ou até mesmo susto. Mas a tensão tomou conta do ambiente. Mais do que depressa, eles correram até mim. Tentei andar, mas acabei caindo – quase -, os braços de Sitael me seguraram, antes que meu corpo tocasse o chão.
_Você está bem?! – Perguntou o garoto chamado Kaab. Que aparentava uns... Treze anos de idade.
_A medida do possível. – Respondi com um sorriso brincalhão no rosto. – Hein, vocês nem me chamaram para vir tomar café! Nossa só de birra não vou voltar para o quarto.
 Alguns riram, talvez para me animar. Não me senti confortada o suficiente, mas fiquei feliz de alguém ter rido do deboche sem graça. Muito sem graça!
 Sentei na cadeira, e deixei os músculos relaxar. A conversa continuou, mas agora com a minha inusitada participação. Os risos tomavam conta da cozinha, que deixara ir embora, toda aquela tensão. Até que Kaab começou a me fitar. Eu o encarei, sem desprezo algum. Ao contrário, senti um pouco de afeição pelo moleque.
 Ele andou até mim, e se sentou ao meu lado.
_Ana... – Disse ele, com um tom de voz meio preocupado. – Você está bem mesmo?
_Estou. – Respondi. Baguncei os cabelos castanhos dele. – Fique tranquilo, baixinho.
_Baixinho?! – Ele riu. – Olha quem fala!
_Baixinha não... – Levantei o dedo em um tom moralista, mas o riso interrompia. – Desprovida de uma boa altura.
 Nós rimos.
 Quando já não tínhamos assunto, a tensão tomou conta do ar. Até que Dib, não suportou mais e resolveu falar:
_Gente, não aguento mais. O que foi aquilo ontem?!
_Dib! Cale a boca, seu grande idiota. – Disse Davi com raiva. – Ana ainda não se recuperou, e você já vem falar disso.
_Está tudo bem. – Pousei a mão sob o ombro de Davi. – Aquilo, Dib. Foi uma possessão.
_EU SEI QUE FOI UMA POSSESSÃO. – Ele disse nervoso. – Mas o que eu quero saber, é o por que...
_Talvez eles queiram algo de nós. – Respondi. – Um sacrifício, uma alma... E congêneres.
_O que seriam estes congêneres?
_A abertura do apocalipse. – Respondi.
 Assim que eu disse a palavra apocalipse, todos estremeceram. Jafar folhava a bíblia, e então, foi surpreendido com a mão de Dib, que tirou a bíblia de suas mãos.
_Porra! – Disse Jafar, em protesto. – Pediu?
_Oohh! A moçinha ficou chateada. – Disse ele debochando, fazendo um biquinho e rebolando uma dancinha. No fundo eu queria rir. – A moçinha empresta esta merda?!
_Não é uma merda. – Disse Sitael, sombrio. – É uma bíblia!
_Que seja! – Ele fitou a bíblia. – Dá na mesma.
 Olhei para Sitael, barrando o que ele ia dizer. Sitael se irritou com a lerdeza de Dib, e usou seus poderes para colocar na página certa.
_O apressado come cru! – Disse Dib, irritado.
_E o lerdo come queimado! – Respondeu ele, na mesma altura. – Leia, logo de uma vez.
 Dib engoliu seu orgulho e leu em voz alta, uma parte do apocalipse. Deus que me perdoe, mas desde que eu tinha treze anos de idade, ainda mortal, eu não ia à igreja. Muito menos olhava a bíblia. Aquilo me deixou um pouco irritada.
 A tontura havia passado e a dor de cabeça também. Então, consegui finalmente me levantar.
_Jade! – Chamou-me uma voz de uma pessoa muito velha. – Venha cá, minha boneca.
 Eu pensei: “Sai para lá, macumbeira. Tenho cara de boneco vudú, agora é?!” Só pensei.
 Olhei para trás e vi uma senhora – anciã – que estava segurando um tipo de cajado. Pareciam aquelas videntes Incas.  Fingi que não era comigo e continuei indo em direção ao quarto.
_Não finja que não é com você, criança. – Chamou ela, novamente.
_EU NÃO SOU UMA CRIANÇA! – Protestei, por ela ter dito meu verdadeiro nome. – SOU MAIS VELHA QUE VOCÊ!
 Eu avancei, mas Sitael colocou o braço na minha frente e eu me acalmei.

Capítulo 6 – Lobos (Dedicado a uma grande amiga, chamada: Victória Zanellato Cancellier)

 O silêncio fora quebrado, assim que dei um gemido de dor. Sitael estava ao meu lado, segurando a minha mão.
 Minha visão começou a voltar até alcançar a nitidez perfeita. Comecei a sentir minhas mãos, elas estavam mais vivas. Meu corpo estava dolorido e vivo. Como quando eu era mortal.
 Mas meu coração não batia. A pele continuava pálida, os sentidos mais aguçados. A diferença, é que a cor da aura de Sitael estava mais forte. Estranho... Aquele branco estava diferente, um tom dourado e rosa...  A base da aura estava rosa, um pouco acima dourada e o resto totalmente branco. Não... Não, não, não, por favor, não.
 A aura dele já estava começando a ficar colorida, isso não podia acontecer.
 Um toque-toque na porta, me fez sair dos meus pensamentos. A porta fez um rangido desgraçado e vi a imagem do meu irmão.
_Melhor, irmã? –Disse ele, ajoelhando-se ao meu lado.
_Ahn... – Gemi, coloquei a mão na testa, bem perto do olho, deixando-a limpar o rosto e acordar um pouco. – Acho que estou.
_Sitael, tenho coisas a fazer. – Disse ele, levantando-se. – Cuide dela por mim. Por favor.
_Não precisa nem pedir, Adônis. – Disse Sitael.
 Adônis disparou a correr e pulou a janela. Ouvi seus passos até certo ponto e depois o perdi de meu campo de audição. Sitael, voltou seu olhar para mim.
_Você não está bem... – Disse ele.
_Já disse para não ler minha mente, quando eu não preciso que a leia. – Disse eu, com uma voz estressada.
 Ele passou a mão em meus cabelos negros, e seus dedos deslizaram até meu queixo. Seu rosto se aproximou do meu...  Ele aconchegou-se e seus lábios carnudos, foram até meu pescoço. Estremeci com sua respiração quente, contra minha pele fria.
 Afastei-o de mim, com as mãos ainda fracas.
_Você não pode pecar, seu idiota. – Disse eu.
_Quem disse que eu quero permanecer anjo?! – Disse ele, em um tom meio... Qual é a palavra... Talvez ousado.
_Eu disse e ponto final. – Respondi, com raiva de mim. – Assunto encerrado. Ponto. Hunft!
 Um pouco distante de nós, ouvimos latidos e uivos. Não eram cães, eram... Lobos. O olhar de um deles quebrou a harmonia da escuridão do bosque. Um deles rosnou para mim. Até que o outro latiu e o que rosnou, recuou.
 Um homem, com aparência de... Sei lá, 18 anos. Apareceu, seguido por uns cinco lobos. Ele me fuzilou com o olhar. Os não, lobisomens, não. Logo agora. Olha que eu nem estava procurando confusão.
_Você. – Ele referiu-se a mim. – Vampira. Sejamos pacíficos. Não é de nossa natureza conversar com vampiros, mas precisamos de auxílio.
_Entendo. – Levantei-me, logo recuperada. – Em que podemos ajudar?
_Estamos à procura da chave do apocalipse. – Disse ele. – Precisamos de uma cobertura. Entende?
_Estávamos mesmo precisando de outro lugar, onde nos abrigar. – Respondi.
 “Será que não é uma armadilha?!” – Perguntei mentalmente para Sitael.
 “Pouco provável. Eles estão tensos por conta do seu cheiro. Acho que são confiáveis” – Respondeu ele.
 Fique muito irritada com o comentário do meu cheiro, mas fingi não ouvir.
 Após uma discução interminável, (eu já estava ficando passada com aquilo), determinamos que: Iríamos ajudá-los e eles nos ajudariam.
                                                                                     ***
 Já na aldeia dos lobos, eu fitava o mar, sentada em um pedaço de tronco caído e arrebentado. Eu olhava as conchas que estavam a beira do mar, elas dariam excelentes runas Janárricas. Eu fiquei a refletir. Pensei no filme: “O mestre das armas”.
 Huo Yuanja vivia querendo ser o melhor e mais temido de sua redondeza. Tamanho seu orgulho e seu desejo, que se aprofundou em um mar sem fim. É como a fala do gênio de Aladim: “Seu desejo, é uma ordem.” Mas cuidado com o que deseja. Às vezes, os desejos não são tão bons como parecem.
 Eu deixei que algumas lágrimas caíssem. Não pedi para ser esse monstro. Ser dependente de sangue, e veias absurdamente cheias de vida. Chorei mais. Meu desejo era evoluir, e não parar no tempo e viver a eternidade amaldiçoada. As palavras que me tornariam mortal de novo, seriam: “Eu te liberto.” Mas, jamais ouvi isto. Talvez o meu “sim”, para o homem louro, deva ter sido, o principio para este tormento sem fim.
 Debulhei-me em lágrimas, ao me lembrar de que não havia mais motivos para que eu existisse. Eu era desnecessária.
 Senti que uma mão extremamente quente, tocou meu ombro. Assustei-me e afastei por instinto. As lágrimas foram barradas, e as últimas gotas escorreram por meu rosto. O garoto/lobo me analisou por um momento e disse:
_Houve alguma coisa? – Ele perguntou, preocupado.
_Não houve nada. – Respondi, tentando disfarçar a dor. – Não se preocupe.
_Se está chorando, é por que houve alguma coisa. – Disse ele.
_Por favor, deixe-me sozinha, com meu inferno e pensamentos melancólicos. – Respondi, sem nenhum desprezo na voz. Minha raiva foi essa. Ela saiu tão suave e doce, de um jeito que eu não queria.
 Tentei ir, mas ele segurou meu braço. Tentei me soltar, mas ele não deixou.
_Qual seu nome? – Perguntou ele.
_Ananka.
 Ele estendeu a mão e eu apertei sua mão.
_Chamo-me Davi.
_Prazer em conhecê-lo, Davi. – Assenti.
_Bem-vinda a nossa humilde morada. – Disse ele. Ninguém havia dito isso.
_Já morei em um lugar parecido. – Disse eu, dando um sorriso torto. - Só que lá incluíam bruxarias, feitiços e todo tipo de criatura que se imagina. Menos lobos.
 Ele sorriu da ironia, mas ele percebeu que eu queria esconder o porquê de minhas lágrimas.
_Ananka... Você também usa outro nome, não é? – Perguntou ele. – Pois, as maiorias dos vampiros escondem seus nomes antigos.
_Conheceu outros vampiros? – Perguntei. Droga! Nunca iria dizer meu verdadeiro nome, sem precisar.
_Conheci... Mas foi há muitos anos. – Respondeu ele. – Qual seu verdadeiro nome?
_Nunca direi. – Respondi. – Desculpe.
 Sai a andar e fiquei andando perto do mar. Eu estava com a mão nos bolsos, e os cabelos amarrados em um coque espatifado. A calça jeans toda estourada e os pés descalços.
 Eu estava a admirar tal beleza que a reserva tinha... Era bonita. Do nada vi uma sombra que pulou em cima de mim e eu caí na areia. Sitael ria, por cima de mim.
_Sitael, sai de cima. – Disse eu, tentando não rir.
_Ah! Eu só queria te assustar. – Ele se levantou rindo, me ajudou a levantar.
_Otário. – Disse eu.
 Peguei um punhadinho de areia e joguei nos pés dele. Ele pegou outro punhadinho e jogou no meu pé. Corri para a beira do mar e joguei água nele... Foi assim, até sairmos pingando água salgada.
                                                                                          ***
 Com o corpo seco e a roupa quentinha, fiquei a ver os garotos jogarem basquete. Eu tentava desenhar eles jogando, mas obviamente a movimentação rápida, prejudicava um pouco. Mas não era impossível.
 O mais jovem deles, ficou a me olhar. Parecia ter mais ou menos a minha idade de aparência. Por que é meio óbvio também, que ele não tivesse 100 anos. Nossa! Hoje estou igualzinha ao Google, falando somente coisas óbvias. Irônico, não é?!
_Ana! Venha jogar conosco. – Chamou ele.     
_Eu não jogo muito bem. – Respondi. Também, nasci desprovida de uma altura boa.
_Vem! – Chamou de novo.
 Larguei o lápis e o caderno e andei até eles.  Ficou aquele silêncio...
_Você tem um cheiro muito doce! – Disse um deles.
_É, eu sei. – Respondi. – Parece cheiro de cadáver com rosas.
_Eu não ia dizer isso, mas sou obrigado a concordar. – Ele respondeu, querendo rir.
_Ahn... Bom, está é minha amiga Ananka. – Disse Davi, vendo que aquilo não ia funcionar.
_Vocês são...? – Perguntei.
_Eu sou Dib. Ele é Fuad, Hassan, Jafar e Kaab. – Respondeu o garoto chamado Dib. Ele apontou para um de cada vez.
 Todos os lobos eram apenas garotos. Os chefes dos lobos são apenas como conselheiros ou mandantes. É bem confuso, mas é organizado. Acho... Mas enfim, era o nosso novo lar. Fomos bem recebidos, apesar de meu cheiro não ser muito agradável aos lobos.
  Olhei para Davi, e ele deu um lindo sorriso. Ih! Isso não vai dar certo.
 Sitael veio correndo, e chegou até nós, ofegante. Segurei-o para que não caísse.
_O que houve? – Perguntei, ele conseguiu manter o equilíbrio e soltou-se de mim, apoiando as mãos nos joelhos.
_Uma menina da reserva... – Disse ele. – Ela está possuída. A posseção é tão forte, que nem eu consegui exorcizá-la.
 Apoiei Sitael ao meu lado, e fomos até a tenda onde estava a garota.
 Encarei a tenda por um minuto e avancei tenda adentro. A garota estava amarrada, sob as varas de bambu, onde se formava a cabeceira de uma cama.
_Jade... Há-há-há. Que prazer revela minha cara. – A garota ria... Como ela podia saber meu nome verdadeiro. O nome de quando eu era mortal. – Por que não cumprimenta sua antiga amiga de infância?!
_Aaliath?! – O que houve com ela? – Como... Você virou um demônio.
_Descobriu agora, gênio?! – Disse ela, ironicamente.
_Cale-se criaturinha insignificante. – Disse eu. – Você não é a minha velha amiga Aaliath. Você uma copia extremamente mal feita.
_Como podes dizer isso?! – Gritou ela, com uma voz demoníaca.
_Se és quem você diz, qual era o código que eu e ela usávamos? – Essa era a minha principal arma.
 O silêncio pesou sob nossas cabeças, e ela me fitou com um olhar sombrio. Seus olhos saíram do negro mais fumegante, para o branco mais puro.
_É espertinha demais, para o meu gosto, menininha. – Ela me olhou com uma cara enojada.
_Eis aí, minha vantagem. Eu sou esperta, e você não. – Respondi, dando um riso irônico. – Faça as honras. Quem é você?
_Meu nome, pequeno apocalipse, é Lilith. – Respondeu ela, com uma voz sedosa e aveludada, que mesmo assim, não me deixei enganar. – Eis quem é. O pecado da carne.
_O que você quer? – Perguntei, grosseiramente. – Diga-me, cretina asquerosa.
_Você. – A forma imaterial dela veio até nós, com a intenção de me possuir.
 Mas nossa surpresa, que um tipo de escudo se formou sob nós. Tamanha minha força que consegui transformá-la em um escudo áureo, que nos cobriu. Um branco cristal.
 A tenda começou a balançar, assim como o chão, que estava abaixo de nós estávamos.
_Acquijure te espiritus, nequissimi per Deum onipotentem. – Gritei e sua forma imaterial se desfez diante de nossos olhos.
 Uma luz que pareceu tomar conta de mim, se expandiu, fazendo que os olhos ficassem em um branco cristalino. E uma luz invadiu a sala, que veio de mim. A maioria dos presentes no recinto foi atirada para algum lugar.
 Arruinei minhas forças. O escudo se desfez pouco a pouco, e a luz que veio de dentro de mim, começou a se apagar. Caí no chão, quase lúcida. Vi a imagem de Sitael e alguns garotos lobos correndo até mim. Apaguei.
 A partir daí... O que aconteceu?!
 É uma boa pergunta. E a boa resposta, é: Não faço à mínima ideia.